O que podemos aprender sobre Nudges e Políticas Públicas em tempos de Pandemia?

Diante de um cenário pandêmico inimaginável, boas ações têm surgido para contribuir com a sociedade, em todo mundo. O The Behavioural Insights Team — BIT é um exemplo disso. A empresa utiliza a estratégia do Nudge para propagar ideias de mudanças simples de comportamento direcionadas a melhoraria de políticas públicas pelo mundo afora e, em tempos de crise sanitária, tem lançado mão de sua especialidade para trabalhar em prol da saúde mundial.

Veja como uma pequena “cutucada” pode ser providencial: um dispenser de álcool em gel localizado em uma área de circulação de pessoas, e que esteja à vista para todos, fará com que grande parte das pessoas que entrarem no ambiente sejam direcionada a utilizar o produto, podendo resultar numa diminuição da taxa de contaminação daquela ambiente.

E é com ideias simples como esta que o Behavioural Insights Team — BIT tem atuado em diversas pesquisas relacionadas ao COVID-19, que vão desde lavagem das mãos, passando por promoção de comportamentos com objetivo de diminuir o contágio do vírus, e ainda buscando criar e aperfeiçoar ideias pedagógicas junto à tecnologia disponível que podem melhorar os resultados da aprendizagem na plataforma virtual, dentre outros. Conheça outras pesquisas já realizadas pelo BIT em tempos de COVID-19.

 Resumindo o conceito…

Nudge, literalmente traduzido como “cutucada”, é uma estratégia das ciências do comportamento que, se aplicada de maneira correta, consegue mudar condutas simples, em uma grande escala, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade e com um custo mínimo para governos e empresas que desejam utilizá-la.

Segundo Thaler and Sunstein (2008), um Nudge é “qualquer aspecto da arquitetura de escolha que altere o comportamento das pessoas de uma maneira previsível, sem proibir nenhuma opção ou alterar significativamente seus incentivos econômicos”. Seria como um pequeno empurrão para direcionar a população a uma decisão mais assertiva, de forma barata.

 Cutucadas “pró-sociais” já são estudadas em outros contextos públicos.

Muita gente, assim como o BIT, vem estudando sobre o assunto. Myrthe van Delden (2018), que pesquisa o tema direcionado à Segurança Pública, afirma que é importante entender melhor sobre como esses insights comportamentais podem influenciar direta ou indiretamente na redução da criminalidade, mesmo considerando a complexidade do assunto. A pesquisadora acredita que, se somarmos todo o conhecimento que já se tem em matéria de segurança pública à “melhor” ciência comportamental, poderíamos obter maiores ganhos neste contexto.

Aqui no Brasil o assunto também instiga nossos pesquisadores. Em 2018, a Revista Brasileira de Políticas Públicas publicou um volume que discorre sobre a indução de comportamentos e Políticas Públicas, examinando o tema sob a perspectiva do direito, da psicologia e da neurociência. Conheça duas das pesquisas publicadas na revista que abordam do uso de Nudges em Políticas Públicas:

Cutucadas “pró-sociais” somadas a boas políticas socioeconômicas podem oferecer bons resultados em projetos governamentais.

Mas, é preciso ter em mente que Nudges não são soluções mágicas ou definitivas para problemas espinhosos. Para se pensar e planejar políticas públicas, em qualquer lugar desse mundão, é preciso reconhecer que cada país apresenta suas particularidades, especialmente culturais, econômicas e sociais. E essas características, próprias de cada país, afetam não apenas escolhas relacionadas a “onde e quando investir o erário público”, mas também no comportamento, individual e social, das pessoas de determinado território.

A ideia é boa, mas requer alguns cuidados…

Existem benefícios, mas existem riscos. Não é tudo que funciona. E não é tudo que funciona bem. O uso da técnica comportamental precisa ser bem estudado e avaliado, especialmente nos aspectos relacionados à transparência e controle democrático envolvidos na estratégia selecionada. O receio pela má utilização de uma “cutucada” é de fácil compreensão: e se “aquilo que era para ser apenas um empurrãozinho” se tornar um incômodo para as pessoas ou até um controle governamental excessivo e desarrazoado sob os cidadãos?

Eu penso que o melhor aprendizado que podemos obter com esses ensaios, teóricos ou práticos, é compreender que a psicologia comportamental pode oferecer valiosas contribuições não apenas ao indivíduo, mas toda a sociedade.

Precisamos investir em mais pesquisas para que especialistas consigam identificar a melhor maneira de atuar em cada projeto governamental e enfrentar os desafios que serão impostos, sempre com o objetivo de alcançar o pleno potencial das ciências públicas comportamentais.